João Ubaldo Ribeiro esteve aqui em Viena lendo crônicas do seu livro "um brasileiro em Berlim". Foi um sucesso. O bom humor do escritor baiano é contagiante. Para os brasileiros que vivem na Europa é um deleite acompanhar as aventuras dele e as observações a respeito das nossas diferenças culturais.
Essas situações que os brasileiros morando fora do Brasil sentem na pele. Um dia desses visitando uma sorveteria aqui em Viena, que faz seus sorvetes com "frutas exóticas" vindas da Amazonia, me peguei num desses dilemas. Meu marido resolveu provar o sorvete de Taperebá. Como sou do Rio de Janeiro fiquei constrangida de dizer a ele que não tinha idéia do sabor de tal fruta, que para mim também soava exótica. Eu apenas respondi que o sabor era .... suculento ... assim difícil de explicar ... só provando. Depois que provei reconheci que tinha gosto de cajá. Cajá eu conheço de longe por causa do cajá-manga, que é o parente mais próximo encontrado em abundância no Rio de Janeiro. Pois é ... já dá para escrever um texto de "uma brasileira em Viena."
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Lugares ocos ... mama mia! Que deprimente.
Existe um nome promissor na literatura austríaca: Clemens J. Setz. Seus textos falam de lugares ocos, de pessoas cruéis e de da solidão da cidade. Alguns textos são bizarros, repletos de uma energia violenta. Os austríacos tem tradição nessa atmosfera desolada e Clemens J. Setz com 28 anos ainda vai dar o que falar. Está na hora de fechar o livro deprimente, tomar uma cerveja e aproveitar o dia. Se desvencilhar dessa sensação de desolação, como quem se desvencilha de um casaco num dia de sol. O sol brilha e eu agradeço por isso. Hoje no jornal tem um artigo escrito por Paul Auster em que ele elogia o livro "I remember" de Joe Brainard, que foi um artista plástico americano. O livro é uma colagem que começam sempre com eu me lembro .... Paul Auster comenta que nas aulas de escrita criativa já se tornou comum usar esse artifício para se produzir textos. Eu me lembro como subia na goiabeira em noites de verão e olhava para o céu estrelado e sentia uma dor imensa em minha alma. Uma premonição de que durante todo o meu percursso na terra eu estaria me sentindo ao mesmo tempo tão perto do céu e tão próxima da queda. E você? Do que você se lembra? Gilberto Gil esteve tocando em Viena no dia 12 de abril de 2011. Na Konzerthaus, uma casa que recebe músicos do mundo inteiro. Uma alma sensível quando encontra um artista sempre se beneficia. Às vezes o encontro se dá como uma explosão. O big bang deve ter surgido dessa maneira. A alma se expande e parece que conterá o mundo. E contém. A alma inspira aquele ar, no caso o som, e expira. De inspiração em expiração o universo respira na alma do artista. A alma sensível vira ela também parte da obra criada. Parte da arte de se repetir a gênesis do mundo. Nesse sábado, meia noite e dezessete.
Estou folheando o livro dele. Eu saí daquela terra gelada e vim parar aqui. "solidão é muito importante" eu coleciono essas frases de escritores. Eu coleciono elas na esperança de poder usá-las, assim deformadas, um pouco diferentes para que as pessoas não notem que elas não são minhas. Como essa: "(...) Eu queria gostar de Teresa, fiz tudo para gostar de Teresa, palavra de honra. Eu precisava gostar de alguém. (...)" Eu poderia ter dito isso. Eu juro, que poderia ter dito isso. Não poderia? Você teria notado? Com certeza não. Eu coleciono essas frases e repito elas na esperança de que de tanto repeti-las elas se tornem minhas. Eu decido fechar livro. meia noite e vinte e oito. Eu devia dormir e parar com isso. "Mas o telefone tocou quando eu estava com o rosto cheio de creme e quando estou com o creme no rosto não sei fazer nada e muito menos falar no telefone." Uma última espiada. Agora fecho mesmo o livro. Eu vou sonhar com um romance inteiro de palavras que não me pertencem. Para inspirar (!?)
"... acredito que todo mundo é um artista em condições de determinar o conteúdo e o significado da vida em sua particular esfera, seja pintura, seja música, seja o cuidar de enfermos, seja a faxina de lixo, seja lá o que for: Quando minha mãe ficou doente ela teve um felacoma, uma acumulação endurecida de fezes no cólon que não permitia que ela defecasse, nem com supositórios ou purgantes. O felacoma tinha que ser extraído à mão, e eu fiz isso, arranquei com os meus dedos aquele bloco de fezes endurecidas do ânus da minha mãe, enfiando os meus dedos e quase a mão inteira pelo seu esfíncter, e quando terminei senti que aquilo que eu fizera era uma obra de arte e guardei o felacoma numa lata que mandei lacrar e carrego comigo para todo lugar, como fonte de inspiração. A verdadeira arte é anárquica e randomica. Minha palavra de ordem é Zeitgeist." Rubem Fonseca - no conto Luíza do livro Ela e suas mulheres |
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